Um casamento auspicioso como de uma princesa foi um sonho realizado na vida de Arlete Ehlke Caldas em 1957
Neve caindo no vestido, uma multidão te assistindo entrar na igreja onde está te esperando o homem que você escolher para casar por amor. No pavilhão de festas te aguarda um bolo enorme em formato de castelo, completamente iluminado.
Parece um conto de fadas, mas esse momento incrível aconteceu em 1957, em Guarapuava (PR), durante o casamento de uma das mulheres mais lindas da cidade, Arlete Ehlke. Tão linda que recebeu um poema de Carlos Drummond de Andrade – após este ver sua foto em um jornal. Ela também foi eleita Rainha da Primavera por três vezes consecutivas.
Mas a beleza não era o único predicado de Arlete. Ela também era muito inteligente e dedicada. Buscava fazer tudo com perfeição. Essa maestria foi intensificada na produção do bolo mais badalado de Guarapuava, que chegou a ir a leilão. A moça, então com 17 anos, queria um bolo de contos de fada, no formato dos castelos que via nos livros de princesas. O mais importante: precisava ser todo iluminado.
Arlete, uma irmã e uma prima se dedicaram a essa missão. Foram dois meses de trabalho intenso que resultaram em uma obra prima. A base foi feita em madeira, onde toda a fiação para a iluminação ficou embutida. As “janelas” e “portas” do castelo foram feitas de vidro e as luzes foram colocadas em todo o bolo, inclusive na fonte colorida em frente ao “castelo”. Tudo confeitado com glacê.
A cerimônia ocorreu no dia 20 de julho de 1957, às 16h. Para a surpresa de todos, nevou o dia todo. A praça ficou inteiramente branca, o que abrilhantou ainda mais aquele momento mágico. E a noiva subiu as escadas da igreja Nossa Senhora do Belém com flocos de neve cobrindo seu véu e vestido brancos para se casar com o promotor de justiça Osman Caldas.
A festa foi realizada na casa dos pais da noiva. A admiração dos convidados ao verem um bolo tão lindo foi motivo de comentários na cidade por vários dias. Os amigos presentes não tiveram coragem de comer a “obra de arte”. Com isso, foi proposto que o bolo fosse a leilão para ajudar uma instituição de caridade. Durante o processo de fabricação dos poucos pedaços consumidos, o bolo ficou em “exposição” na casa da mãe da noiva. Várias pessoas da cidade fizeram uma visita para ver o alimento mais comentado da semana. No fim de semana seguinte, o leilão ocorreu e o bolo foi arrematado pela família Martins, também tradicional na cidade.
Felizes para sempre
Para completar o conto de fadas de Arlete Ehlke Caldas, a vida de casada só mereceu elogios. Foram anos de dedicação, amor e companheirismo. Os cônjuges, apesar de brigarem reservadamente algumas vezes como todo casal, viviam em tranquilidade. Eles tiveram teve três filhas, Márcia, Adriana e Sheila. A diversão das meninas era pegar as fotos e ficar imaginando como seria dentro do castelo, como seria a mobília. Faziam cenas das bonecas entrando no Palácio, na certeza de que tudo aquilo era real. Essa história faz parte das lembranças da filha mais velha, Marcia Caldas Vellozo Machado. Ela busca levar ao seu casamento todo o companheirismo que os pais deram como exemplo. Até hoje, a história e o estilo de vida cheio de dedicação, excelência e sofisticação são seguidos por toda a família, inclusive os netos.
O casal viveu junto por 33 anos. Osman foi o primeiro a falecer, aos 64 anos, em 1990. Arlete viveu um luto permanente e dizia que na terra já tinha desfrutado o amor que precisava viver. Faleceu aos 72 anos, em 2008. Sobre o poema de Drummond, com receio de o marido ter ciúmes, rasgou a obra antes do casamento. Ela contou o ato ao marido anos mais tarde. Osman riu e lamentou que um poema de um poeta tão conhecido tivesse sido rasgado. Alete chegava a declamá-lo para as filhas, mas acabou não deixando nada por escrito.
Edição e redação: Andrea Adelio DRT-4030/Pr.
Fotos: Sandro Oliveira RPA-0011412/Pr.